Ontem me mudei outra vez. Pela oitava vez. E pela oitava vez,
abri mão da incomparável sensação de me sentir em casa.
Nasci em Ipanema, na Gomes Carneiro, a 2 quadras ou uma virada de pescoço da praia. Logo passei a ter 2 casas, quando meus pais se separaram. Mas não se separaram muito e a outra casa era ali perto, na Nascimento Silva. Mudança pequena, de levar na mochila e fazer toda terça-feira.
Depois fui pro Jardim Botânico, longe da praia, onde aprendi a gostar de árvore e passarinho na janela. Em seguida, São Conrado - onde a vista e o barulho do mar compensavam a distância, o despertador às 5:50 da manhã e as horas perdidas de pé no 176.
De lá pra Londres e o predinho de tijolos vermelhos da Fellows Road, a rua dos camaradas. A 3 quadras dos esquilos de Primrose Hill. Depois de Londres, uma escala no Rio e de lá pela via Dutra até São Paulo. Mudança nº6. Apartamento pequeno no Sumarezinho, com uma puta vista de São Paulo. Sem ironia. Uma vista realmente digna, embora as janelas só abrissem pela metade.
São Paulo tem as menores e mais acanhadas janelas do mundo. E a maioria delas, só abre pela metade. Talvez seja a economia barata de quem constrói prédios como respira. Ou o instinto de auto-proteção desta cidade de tão poucas vistas. O fato é que São Paulo vive pra dentro. E vive bem assim. Já que o lado de fora não tem jeito mesmo, trata de arrumar o de dentro. Foi o que fiz quando me mudei com a Bia pro predinho da Sampaio Vidal, onde as árvores que invadiam as janelas me faziam sentir no Jardim Botânico. Um apartamento delicioso, com cara de casa. Até que chegou a hora de mais uma mudança. A nº8.
Desta vez para uma vila simpática, ao lado do Parque do Ibirapuera. Com direito a quintal, chuveirão e churrasqueira. Foi ontem. Mais um pouco e me sentirei em casa outra vez. Só falta virar o pescoço e ver a praia, ter as árvores invadindo as janelas, os esquilos no parque, o barulho do mar e São Paulo pela fresta da janela que só abre a metade.