segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A bolsa, o Paul Newman e a chuva no Maracanã.

Todos caem um dia.
No sábado, foi a chuva no Maracanã. Chuva não, um aguaceiro bíblico que desabou sobre os 22 em campo e outros 40 mil na arquibancada. Que empurraram o time até o fim de um jogo tão feio quanto épico. Épico pela chuva, pelo grito incessante da torcida, pelos gols da virada aos 36 e depois 44 do segundo tempo. E pela catarse coletiva. Que eu integrei de longe, a uma via dutra de distância, pulando e berrando sozinho em frente à TV. Não choveu em casa. Mas foi quase.














No dia seguinte foi a vez do Paul Newman. Caiu depois de 83 anos.
O cara foi Butch Cassidy, foi professor de sinuca do Tom Cruise, foi o amigo bonito do Robert Redford, foi gente boa, foi rico, foi famoso,
foi talentoso, foi casado com a mesma mulher durante 50 anos.
Paul Newman foi. Não é mais.

http://www.youtube.com/watch?v=S2OdPDEG6aQ

Ontem caiu a bolsa. 7% em NY. Quase 10% em Pindorama. Há anos, só sobe. Muitos se refestelaram sem saber que a euforia, sempre e implacavelmente, leva à debilidade. Eu cheguei no fim da festa. Provavelmente, você também. Perdemos dinheiro, engolimos o choro. Mas isso não é nada. Paul Newman caiu no domingo. E a chuva caiu no sábado no Maracanã.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Emoção catalogada.

Emoção é sempre bom. Mesmo quando é ruim. Eu não chego a ser assim um emo, mas me emociono com alguma facilidade. Mesmo assim, de vez em quando tenho um certo receio de não me emocionar com nada nunca mais. Ou pelo menos não com a intensidade que já me emocionei um dia. E ficar como aqueles anjos do Wim Wenders no Asas do Desejo. Sobrevoando Berlim eternamente, meio invisíveis, sacando tudo. Sem sentir absolutamente nada. Sem emoção nenhuma. Convenhamos, uma vida, ou pós-vida, de merda. Eu não quero ficar assim, por isso faço uma espécie de catálogo. Vou registrando algumas emoções pra resgatar quando elas fizerem falta.

Agora que estão começando as Olímpiadas, me lembrei de um ranking que fiz há 4 anos das emoções que senti durante os jogos de Atenas - com alguns detalhes do dia e do lugar onde assisti, pra facilitar a memória. Talvez Pequim seja uma merda. Talvez eu não me emocione mais. Mas, graças a lista aí embaixo, estou garantido.

1. Bronze do Vanderlei na Maratona depois do padre irlândes (domingo em casa).

2. Ouro do Vôlei – Brasil 3 x 1 na Itália (no mesmo domingo, em casa).

3. Derrota do Vôlei Feminino pra Rússia – depois de 24 x 19 pra nós no quarto set e match point no tie-break (na agência).

4. Prata do Baloubet / Rodrigo Pessoa – torcendo contra os adversários. (na agência)

5. Prata do Futebol Feminino – 1 x 2 pras gringas na prorrogação, com bolas na trave e pênalti não marcado (na agência, no mesmo dia do Vôlei Feminino).

6. Brasil 3 x 2 Itália - com 33 a 31 no tie-break, na primeira fase (na agência).

7. Passinho pra frente da Daiane (na agência, com 200 pessoas em frente à TV).

8. 17º lugar do Bimba na última regata, quando tinha tudo pra levar o ouro (em casa, às 7h da manhã).

9. Sexto ouro do Michael Phelps – batendo recorde olímpico meia hora depois de ter vencido também os 200m borboleta (na agência).

10. Pódio do Robert Scheidt, primeiro ouro brasileiro (domingo à noite em casa – VT).

terça-feira, 27 de maio de 2008

O chinês preso e o padre voador.













O chinês é, por excelência, um disciplinado. Vai bem na ginástica olímpica. Vai bem na construção de muralha. Vai bem em qualquer coisa que você mande ele fazer: arroz, tênis, microchip, filho.

Outro dia teve um terremoto daqueles por lá. Os chineses não fizeram o terremoto mas, se alguém tivesse mandado, eles teriam feito. No capricho, como foi esse lá em Sichuan. 7.9 graus na escala richter.

Pois uma semana depois, resgataram um chinês dos escombros. Vivo. O sujeito ficou 179 horas soterrado sem água, nem arroz, nem microchip. Recorde mundial de sobrevivência em terremoto. Não sei se foi, mas deve ter sido. Recorde que durou só uma semana. Ontem, duas semanas depois do terremoto, resgataram mais um chinês. Desta vez, um urso panda. Vivo.

Se o nosso padre voador fosse chinês, eu ainda tinha esperança.





quinta-feira, 27 de março de 2008

O blog não é bissexto.

Bento é.
Chegou faz quase um mês, dia 29 de fevereiro. E o ano ganhou um dia a mais. Uma exceção, uma brecha, uma intervenção de algum anjo com muito prestígio lá em cima que separou um dia só pra ele chegar.
Bem vindo, meu filhote.

















Aparecerei mais por aqui, se o Bento deixar.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Pra que serve o relógio.

Por algum motivo, em todos os desenhos e filmes de ficção da nossa infância, as pessoas usavam o relógio pra falar umas com as outras.
O batman apertava um botãozinho do relógio e fazia uma vídeoconferência com o Comissário Gordon. O George Jetson mandava o Elroy voltar pra casa com o relógio, o homem de 6 milhões de dólares marcava um jantar com a mulher biônica com o relógio. Mas em algum momento nesta história inventaram o celular. E o celular tem hora.
Conclusão 1? Cada vez menos gente usa relógio.
Conclusão 2? Os engenheiros da Nokia são muito mais espertos que os da Casio. E com certeza assistiam muito mais TV.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Parábola de Jacó.

Jacó em reunião mostra fotos do seu neto de 1 ano:
- Olha o meu neto. Meu neto me ama. E nem sabe que eu sou rico.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O crepúsculo de Ronaldo.

Final da Taça Guanabara. 1º de março, 2009.
Flamengo x Vasco. 74 mil pagantes.

Final do primeiro tempo, Vasco 1 a 0.
Final do segundo tempo, Flamengo 3 a 1.
1 gol de Obina, claro. E 2 do Ronaldo.

Levo fé.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O Oráculo de Bacon.

Todo mundo já está careca de conhecer aquela teoria de que ninguém está a mais do que 6 pessoas de distância de qualquer outra. Mas a prova mesmo, essa eu nunca tinha visto. Pois descobri um site do departamento de Computer Science da Universidade de Virginia. Os caras criaram um mecanismo que eles chamam de Oráculo de Bacon. Funciona assim: um software tipo google faz uma busca instântanea pra comprovar que qualquer ator ou atriz do mundo está a no máximo 6 pessoas de distância do Kevin Bacon. Duvidei, claro. Pus lá: Lucélia Santos. Fácil. Ah é? Então toma: Xuxa. Não é possível. Então... José Lewgoy. Estava lá. Aí me desafiaram. Meti lá: Ferrugem. Em menos de 2 segundos os féla me conveceram.

Aí o resultado:
Ferrugem has a Bacon number of 4.
Ferrugem was in Costinha e o King Mong (1977) with Wilson Grey
Wilson Grey in Kiss of the Spider Woman (1985) with William Hurt
William Hurt was in Trial by Jury (1994) with Beau Starr
Beau Starr was in Where the Truth Lies (2005) with Kevin Bacon.

Duvida? Vai lá: oracleofbacon.org

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Pequenas conversas de casal.

(1)
- Amor, você acha que eu engordei?
- Hoje, não.

(2)
- Amor, você gostaria mais de mim se eu pusesse silicone?
- Um pouco, talvez.
- Um pouco quanto?
- 200 ml tá bom.

(3)
- Amor.
- Ahn…
- Presta atenção no que eu tô dizendo.
- Tá, com 2 pedras de gelo tá bom.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Um dia a gente filma.









Interior da Finlândia.

Grandes lagos.

Os dias são curtos e o inverno é rigoroso.

Não há luz elétrica.

Nossos personagens vivem uma vida de isolamento.

O pai, viúvo, vive com a jovem filha na floresta.

Ela é loira, linda, no auge dos seus 15 anos.

Ele é lenhador, de barba grisalha e mãos calejadas.

A rotina é sempre a mesma.

Ele passa o dia na floresta, cortando lenha.

Chega exausto no fim do dia e a filha o espera com o jantar.

Ele toma sua vodka em frente à lareira e vai dormir.

Uma vez por mês a rotina se altera.

Ele pega sua canoa e rema até a cidade mais próxima.
Vai comprar mantimentos.

Um belo dia resolve levar a filha até a cidade,
pela primeira vez.

Ela não cabe em si de tanta alegria e excitação.

Os dois viajam em silêncio,
interrompido apenas pelo som do remo cortando a água.

A canoa chega ao cais e a estadia deve ser a mais breve possível.

O pai vai até o mercado - não vai demorar -
e diz à filha que fique ali, cuidando de tudo.

Da canoa ela observa o cais, num misto de medo e fascínio.

O cais é movimentado. Gente pra todo lado.

Eis que um menino de 7 ou 8 anos aborda a moça na canoa
e entrega a ela um telefone celular.

O menino não diz nada, apenas aponta um rapaz há alguns metros de distância.

Era dele aquele objeto que ela nunca tinha visto.
Não tinha a mais vaga idéia do que fosse.

O rapaz se mantém ali, de pé, fascinado com a beleza da moça.

Os olhares se cruzam por alguns instantes,
mas logo chega o pai e é hora de partir.

Ele acena. Ela se recompõe, tímida.

Então esconde sob o vestido o presente e segue com o pai de volta pra casa.

Ela guarda o presente misterioso como uma jóia, escondida debaixo de 3 cobertores.

No dia seguinte, ao entardecer, ele toca.

Ela está sozinha em casa e não sabe de onde vem aquela música.

Procura feito louca pela casa.
E assim que põe as mãos no aparelho, ele pára de tocar.

A moça fica encantada com aquilo, lembra do rapaz no cais, o coração acelera.

Guarda de novo o presente. Alguma hora há de tocar outra vez.

O pai volta da floresta, nota algo de diferente no ar,
mas não dá a devida importância.

No dia seguinte, no mesmo horário, ela apanha o celular
e caminha até a beira do lago.

Espera um novo contato através daquele objeto mágico.

O tempo passa, começa a escurecer e ela pensa em desistir.

Enfim o telefone toca.

Toca, vibra, acende a luz e ela fica ali, maravilhada.

Não atende. Sequer imagina que deveria atender.

É como uma caixinha de música.
Que tocará toda vez que o rapaz, lá no cais, pensar nela.