terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Um dia a gente filma.
Interior da Finlândia.
Grandes lagos.
Os dias são curtos e o inverno é rigoroso.
Não há luz elétrica.
Nossos personagens vivem uma vida de isolamento.
O pai, viúvo, vive com a jovem filha na floresta.
Ela é loira, linda, no auge dos seus 15 anos.
Ele é lenhador, de barba grisalha e mãos calejadas.
A rotina é sempre a mesma.
Ele passa o dia na floresta, cortando lenha.
Chega exausto no fim do dia e a filha o espera com o jantar.
Ele toma sua vodka em frente à lareira e vai dormir.
Uma vez por mês a rotina se altera.
Ele pega sua canoa e rema até a cidade mais próxima.
Vai comprar mantimentos.
Um belo dia resolve levar a filha até a cidade,
pela primeira vez.
Ela não cabe em si de tanta alegria e excitação.
Os dois viajam em silêncio,
interrompido apenas pelo som do remo cortando a água.
A canoa chega ao cais e a estadia deve ser a mais breve possível.
O pai vai até o mercado - não vai demorar -
e diz à filha que fique ali, cuidando de tudo.
Da canoa ela observa o cais, num misto de medo e fascínio.
O cais é movimentado. Gente pra todo lado.
Eis que um menino de 7 ou 8 anos aborda a moça na canoa
e entrega a ela um telefone celular.
O menino não diz nada, apenas aponta um rapaz há alguns metros de distância.
Era dele aquele objeto que ela nunca tinha visto.
Não tinha a mais vaga idéia do que fosse.
O rapaz se mantém ali, de pé, fascinado com a beleza da moça.
Os olhares se cruzam por alguns instantes,
mas logo chega o pai e é hora de partir.
Ele acena. Ela se recompõe, tímida.
Então esconde sob o vestido o presente e segue com o pai de volta pra casa.
Ela guarda o presente misterioso como uma jóia, escondida debaixo de 3 cobertores.
No dia seguinte, ao entardecer, ele toca.
Ela está sozinha em casa e não sabe de onde vem aquela música.
Procura feito louca pela casa.
E assim que põe as mãos no aparelho, ele pára de tocar.
A moça fica encantada com aquilo, lembra do rapaz no cais, o coração acelera.
Guarda de novo o presente. Alguma hora há de tocar outra vez.
O pai volta da floresta, nota algo de diferente no ar,
mas não dá a devida importância.
No dia seguinte, no mesmo horário, ela apanha o celular
e caminha até a beira do lago.
Espera um novo contato através daquele objeto mágico.
O tempo passa, começa a escurecer e ela pensa em desistir.
Enfim o telefone toca.
Toca, vibra, acende a luz e ela fica ali, maravilhada.
Não atende. Sequer imagina que deveria atender.
É como uma caixinha de música.
Que tocará toda vez que o rapaz, lá no cais, pensar nela.
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Um comentário:
Caralho João. Eu ainda conto esse filme como um que nunca saiu, mas que merece ser feito. Engraçado ver como contamos exatamente do mesmo jeito. Fudido. Abração. LeroLeo
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